terça-feira, 5 de abril de 2011

A Galáxia da Internet

Reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade

Manuel Castells



A realidade social da virtualidade da internet


Este capítulo que análisámos, incia-se com referência a vários estudos efectuados no sentido de perceber se o uso da internet beneficia ou não os relacionamentos sociais entre os indivíduos. Muito se tem falado acerca deste tema, e no nosso dia-a-dia ouve-se ocasionalmente dizer que a internet afasta as pessoas, que proporciona o isolamento, uma vez que, os indívidios se fecham no seu mundo, com o seu computador, dentro de suas casas.


Contudo, e falamos por experiência própria, a internet e as comunidades virtuais e as redes sociais possibilitam encontrar pessoas que já não se viam há imenso tempo (caso do Facebook), ou até, a análise em grupo deste texto, feita em simultâneo no Google docs. Não estamos presencialmente juntas, mas a internet virtualmente possibilita e facilita o nosso trabalho colaborativo.


Anderson e Tracey, 2001; Howard, Rainie e Jones, 2001, referem no seu estudo que “os usos da internet são, esmagadoramente, instrumentais, e estreitamente ligados ao trabalho, à família e à vida quotidiana” (Castels,2003 :99)


Outros estudos apresentados vão no sentido de que a internet promove a socialização entre os usuários, havendo um contacto regular pessoa-pessoa com amigos e familiares. Também apontam estudos que comprovam o contrário, contudo, nesses estudos, os usuários estavam pouco à vontade com a internet o que levava a um resultado contrário.


No geral, então, os dados recolhidos por Castels (2003), referem que o uso da internet não leva a uma menor interacção social mas que por vezes pode ser um substituto de outra actividade de carácter social.


Comunidades, redes e a transformação da sociabilidade


Vários estudiosos enfatizam que o surgimento de diversas ferramentas tecnológicas no processo social, valorizam a ideia de “comunidade virtual”.


A sociabilidade espacial foi uma fonte importante de apoio e interação entre as pessoas no seu processo de sociabilização, tendo no passado um papel mais importante na estruturação das relações. Hoje o seu papel é menor pois as pessoas não criam laços com base nas raízes espaciais, e sim nas relações baseadas em afinidades.


Barry Wellman, considera que “comunidades são redes de laços interpessoais que proporcionam sociabilidade, apoio, informação, um senso de integração e identidade social” (2001, p.1)


Wellman e Giulia (1999), consideram que as pessoas têm mais de mil laços interpessoais, dos quais apenas meia dúzia são íntimos e menos de 50 são considerados significativamente fortes, tendo em conta o contexto americano. No entanto estes laços tidos como mais fracos não devem ser menosprezados pois continuam a ser fontes de informação, de desempenho, de comunicação, de envolvimento laboral, cívico e lúdico.


A evolução das relações sociais prende-se neste momento com a progressão do individualismo, baseado num sistema de relação social centralizado no indivíduo.


Surge assim segundo Wellman, um tipo de relação baseada em redes egocentradas, designadas por “comunidades personalizadas”.


Com os novos padrões de urbanização, afastamento e desvinculação entre funções e significado, fomenta-se o individualismo e a fragmentação do contexto espacial, surgindo assim o individualismo em rede como característica da nossa sociedade.



A internet como o suporte material para o individualismo em rede


Alguns estudos indicam que a utilização da Internet tem efeitos na manutenção de relações superficiais, que normalmente seriam perdidas. A Internet fortalece o conceito de relações com determinados interesses, como é o caso das comunidades online. Podemos afirmar que a Internet é um suporte de laços fracos, isto é das relações superficiais, mas que raramente serve de suporte a relações duradouras. Assim, as comunidades online são em geral curtas no tempo e poucas vezes chegam à interacção física.


Como o exemplo das comunidades online de apoio a doentes com determinada patologia, que são usadas sobretudo pelos próprios doentes e familiares. Desta forma, podemos caracterizar as comunidades online como a oportunidade de sermos quem quisermos. Esta oportunidade leva a que o indivíduo construa portefólios de identidade para as diferentes comunidades sociais a que pertença. Por outro lado, vemos a Internet como útil na manutenção de relações à distância, já que permite, de uma forma acessível, o contacto permanente sem grandes esforços por parte dos indivíduos.


Contudo, o papel da Internet no desenvolvimento das competências sociais destaca-se no padrão de sociabilidade com base no individualismo. Wellman (2001), citado por (Castells, 2003) afirma que “redes sociais complexas sempre existiram, mas [os] desenvolvimentos tecnológicos recentes na comunicação permitiram [o] seu advento como uma forma dominante de organização social”, o que nos indica que as redes sociais (comunidades online) não vieram inovar as formas de socialização, mas antes suportar o individualismo em rede. (...)



Referência bibliográfica do artigo analisado:


Castells, M. (2003). Comunidades cisrtuais ou sociedade de rede? In M. Castells, A Galáxia da Internet: Reflexões sobre a Internet, os Negócios e a Sociedade (pp.91 - 113). Rio de Janeiro: JJorge Zahar Editor Lda.



Referência da imagem:


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